Irremediável seria se não fosse verdade: tem gente que não vale à pena discutir. Há tempos venho tentando me discordar deste intolerável pensamento de que não se deve dar uma segunda chance de compreensão àquelas pessoas que se acham veementemente corretas. Dó. É o que penso.
Primeiramente faço considerações fundamentais à minha pessoa, ao assunto tratado, ao que ele pode me acrescentar e por fim, à outra pessoa, quando necessariamente me proponho a entrar num debate. Digo debate, porque considero irrefutável a condição de que para se ter um debate seja necessário a aparição de dois pontos de vista (no mínimo) distintos, para que ai sim, possa ser sustentado o envolvente paradoxo de uma discussão.
Claro, que este seria o primeiro ponto para conceituar um debate na perspectiva do assunto tratado nele. Segundo ponto: devemos levar em consideração que as opiniões, os saberes e as pessoas detentoras de tais requisitos são, inquestionavelmente, profanas quanto a legitimidade mostrada. Isto é, ninguém é detentor da verdade absoluta, mas poderá ser superficialmente aceito como detentor absoluto de sua opinião. Logo, a opinião num debate é individual, mas não absoluta.
Creio que esta última frase dá um tom peculiar ao pensamento. Até porque a chave para a compreensão dos pensamentos impositores e, conseqüentemente, dominantes num debate é o fato de que nenhuma das partes é, de fato, certo. Caso eu tenha que explicar epistemologicamente o certo e o errado, entrarei sem querer, na mesma problemática de discutir ou não o indiscutível. Não que a problemática psicológica seja, necessariamente um problema. E nem que discutir o indiscutível seja algo impraticável. Não. Mas devo aceitar que foi a partir deste ponto que nasceu
este pensamento.
O fato é que, desde que descobri que posso não fazer aquilo que necessariamente não devo fazer , me entorpece. Quando me dispus a discutir um assunto indiscutível com uma pessoa indiscutível, não estava fazendo, no entanto, aquilo que me exitaria intelectualmente. Quando me dispus a isso, estava simplesmente não fazendo o que não deveria fazer : discutir com alguém que não vale à pena, um assunto que não vale à pena.
Não se trata de menosprezar a pessoa ou o assunto. Se trata de não estigmatizar os seus anseios. Me empolguei achando que poderia acrescentar algo na minha vida intelectual caso viesse a conhecer novos pontos de vista. Eu estava terrivelmente enganada. Me enganei porque esperei algo diferente e inovador de uma pessoa que, definitivamente, não tinha nada de contraregra. Me enganei porque me propus a ser democrática, com uma pessoa totalmente autoritária. Me enganei mais ainda, porque achei que pudesse entender o ponto de vista da tal pessoa. Mas a
pessoa se quer se fazia compreender.
Como pude, meu Deus, perder trinta e dois minutos da minha vida, uma média de 100 mil palavras, usar três conceitos filosóficos aprendidos em 18 anos de existência, gastar dois mil e trezentos gramas de paciência, doar quatro doses cheias de simpatia e ter flexionado 65 músculos faciais para expressar compreensão e inteligência com um ser que NUNCA mereceu, e quiçá,merecerá a minha consideração? Como pude?
Minha vida mudou? Sim Agora eu sei aonde eu deixei a minha insensatez. No dia em que me vi discutindo com a secretária eletrônica da ANATEL.
por Aline Sant´Ana