A pergunta que logo segue a notícia de uma censura, em pleno 2011, é “Por quê”? Aliás, quando me veio a notícia, o porquê logo se transformou em “por quem?” Acontece que em agosto deste ano, a exibição do filme do diretor sérvio Srđan Spasojevic, cujo o nome nem os próprios censuradores sabem falar, foi proibido pelo Ministério da Justiça, a princípio, em todo o Brasil.
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A serbian Film, que traduzido para o português têm o criativo nome de “Um filme sérvio”, mostra a incoerente história de um ator pornô aposentado, que saiu dos sets de filmagem para formar uma família. O enredo, sem muita linearidade, traz entre escatologia e terror, cenas que, no máximo, fazem você ficar com nojinho e pena do ator que se sujeitou àquilo.
Para a justiça brasileira, porém, as cenas de sexos, nojeira e a montagem de uma criança presenciando o horror-pornográfico entre os pais, representaram “a possível ocorrência de crime, que subverte a ordem natural e lógica do que é razoável". E de acordo com o Ministério Público Federal, "a exibição comercial da película em apreço constituiu a prática, em tese, do crime tipificado no art. 241-C da Lei 8.036/90", que logo foi determinada como suspensão pelos governos de Minas e, posteriormente, do Rio de Janeiro.
Dois meses depois, milhões de cópias pirateadas, 2.000 visualizações no filmow, o filme foi liberado nos cinemas, e exibido na mesma semana de fofices como As aventuras de Tin Tin – o segredo de licorn e Winter, o golfinho. No Rio de Janeiro, no entanto, a censura seguiu. Até quarta-feira passada (26).
O lançamento do filme proibido, sem cenas cortadas, não foi tão empolgante como esperava a Petrini Films, responsável pela distribuição nos cinemas, inclusive no Rio de Janeiro. Após 26 anos sem censurar um filme, a polêmica em volta do filme sérvio me faz pensar que se ninguém o tivesse censurado, ele teria passado despercebido, assim como Atividade Paranormal em Tóquio, que desmentindo a originalidade do primeiro, conseguiu ser a mais tosca e degradante continuação de uma trilogia horror-film de garagem.
A começar pela tentativa de estereotipar erroneamente uma história sérvia, degradando-a pelo cinema lixo que o filme representa, o aposto “Terror sem limites” caracteriza a estranha mania do mercado brasileiro cinematográfico em postular o nome do filme com algum chamamento espetaculoso, como se o povo, de forma geral, não fosse capaz de compreender ou de analisar por si só, a atratividade do filme.
Discutir essa questão agora me convence, cada vez mais que, assim como a desculpa “dos vazamentos” de CDs na internet, a censura do filme só contribuiu para a pirataria e a desvalorização de outros filmes realmente bons, lançados na mesma semana do filme sérvio, mas que não tiveram, tanta atenção de público. Até por que, quem não quer ver um filme proibido?
Aposto que as pessoas, assim como eu, foram correndo encontrar uma cópia pirateada só pra conferir o que poderia desconcertar tanto um ser humano de 16 anos, freqüentador assíduo de redtube e outras bugigangas da internet, a ponto de ser proibido. Como eu poderia imaginar, não foi nada demais.
Para mim, a censura neste caso, só moveu o mercado cinematográfico de baixo escalão, pois até mesmo o diretor, Spasojevic, não entendeu o sentido da proibição: “Eu fiz o filme para chocar. Se o problema são as crianças, aumenta a faixa etária”, contesta. Se foi estratégia ou não, não sei. O fato é que, sem querer rendeu muito para a pirataria, provando ainda que a censura alimenta o que ela mais tenta evitar – o crime.
(comentário escrito em setembro de 2011)