Toda vez que me perguntam qual é o meu estilo musical, eu respondo que sou eclética. Porém, de uns anos pra cá essa resposta tem me causado certos constrangimentos. Ao responder que sou eclética parece que ofendo, de alguma forma, a dita pessoa que perguntou o meu ESTILO. Sim. A palavra estilo nesse caso é chave da questão.
Parece que não podemos mais gostar de muitas coisas ao mesmo tempo. É terminantemente proibido pelo conselho do senso comum que ,metaforicamente, ser comum é contra lei. Essa obrigatoriedade, contudo, não diz respeito somente ao estilo (pré)estigmatizado que devemos ter ao gostar ou não de alguma coisa. Essa obrigatoriedade tutela também a originalidade de gostos que você possui. Ou seja, hoje diferente, inovador, “autêntico”, é normal. É uma moda.
Chego à petulância de classificar tal coisa como MODA porque, em apenas três meses de convivência com seres estilisticamente originais, percebi que a motivação para diferentes tipos de originalidade era sempre a mesma : a maldita vontade de ser diferente. A resposta era sempre a mesma. “ Gosto de R A M porque ninguém os conhece.” Ou ainda, “curto a salpicação indiana porque esse tipo de cultura é pouco apreciada, e portanto, mal compreendida entre nós ocidentais”. Esta útlima por exemplo, é a maior besteira de todas que já ouvi.
A questão é que todo mundo, sem exceção, me diz a mesma coisa ao palpitar a respeito de minhas preferências estilísticas. Fico pensando, meu Deus, será que essa gente não entende que o ESTILO é uma conceito totalmente capitalista para enquadrar, dividir e sublinhar os indivíduos naquilo que chamo de marca-texto social? Por mais ousado, diferente e original que possamos parecer, sempre estaremos estigmatizados dentro de uma característica que o mundo quer nos propor. No fundo são todos eletropsygodeiros que curtem as peculiares manias rocktebalísticas, anunciadas aonde mesmo...? Ah, deixa eu adivinhar: na internet, a principal ferramenta GLOBAL, onde todo mundo (isto é, qualquer um) tem acesso àquilo que considera-se DIFERENTE.
Inocentes pessoas! Fico pensando se elas não acreditam no poder globalizante da internet ou se a ilusão de serem originais tomou conta de seus sensos de realidade. Apesar de cuspí-los, me incluo nesta lista de corrompidos estilisticamente. No entanto tenho a decência e anti-hipocrisia de assumir sim que sou normal e, portanto, gosto daquilo que a mídia me oferece sem que eu tenha de cassar no fundo do buraco coisas diferentes só para ser diferente. Eu sou normal, porque, por incrível que pareça, isto está fora de moda.
por Aline Sant´Ana