
Queridos leitores, eu realmente não quero encher a vossa paciência com os posts chatos e quase sempre voltados à questões relacionadas a intelectualidade ( ou a falta dela). Pois bem, prometo que este será o último. É que não me contenho com as coisas que vejo por ai a fora, e como não posso bater nas pessoas ou pelo menos cobrar delas o mínimo de vergonha na cara, o que me resta é escrever.
Durante esta semana tenho visitado lugares públicos com certa freqüência – o que tem me angustiado a cada olhada para o lado que dou. Só nos últimos três dias, essas visitas a lugares públicos me renderam ácidos comentários no twitter a respeito da burocracia dos bancos, falta de consciência no trânsito, entre outras coisas ligadas a cidadania.
Pra encurtar a história, o fato é que toda vez que me exponho a lugares em que, impiedosamente, sou obrigada a compartilhar o mesmo metro quadrado com seres indignos da minha educação, me sinto frustrada. Não quero, contudo, fazer apelações burguesas ao conceito “clássico” de educação em público, Até porquê ,isso requer um amplo conhecimento de relações públicas e a conseqüente influência cultural nos conceitos de educação. Apesar disso, podemos sim, entrar num consenso do papel da educação na organização social.
Quando você está num lugar – público, como já mencionei – e é submetido as regras deste lugar, você, como um ser educado e que acredita nas leis de organização social, respeita as tais regras. Quando você – ainda neste lugar fictício – está em conjunto com outros seres que compartilham do mesmo código lingüístico que o seu, você tem a opção de se comunicar ou não. Você é livre.
Digamos que você opte por NÃO se comunicar por achar ,no mínimo, desinteressante a forma como os outros seres utilizam a comunicação. Ok. A vontade é sua. A vida é sua. E as pessoas deverão respeitar isso. Digamos ainda que você decida ler um livro, para não se sentir tão oco, num ambiente cheio de transições de pensamentos. Ótimo. Melhor ainda. Você não quer se comunicar com os seres ao seu redor, mas pode ainda se comunicar autOnomamente, sem ofender aqueles que lhe desinteressam. Idéia perfeita não acham?!
Não. Péssima idéia.
Os seres que estão ao seu redor não se conformarão com a sua atitude. Na verdade, para os seres que estão ao seu redor, doeria menos levar um fora e ouvir você gritar que “eles são chatos hipnotizados pelas idéias de senso comum”, do que você abrir um livro e começar a ler, ignorando-os.
Esses seres não se conformarão. Porquê isso dói, caro leitor. Ler um livro numa roda onde se discute a pensão que o Pato vai dar à Sthefanny Brito é tão abominante quanto ser testemunha de um ritual de crucificação animal. É terrível leitor ! Isso fere, choca, constrange, humilha, repugna , cospe, amassa, golpeia, pisa, esmaga o ego dos seres ao seu redor.
Eu não sabia disso. E juro que não fiz por mal. Abri meu livro e comecei a ler. Os seres não sossegaram enquanto não me fizeram desistir. Eles foram persistentes – falavam o mais alto que podiam, comentavam sobre mim, argumentavam sobre o título do meu livro, me cutucavam , tentaram de tudo. Mas eu também persisti. Bravamente. Fui lendo meu livro com muito sabor, com muito gosto. Eu salivava para passar as páginas. Lia sussurrando. Lia. Lia.Lia.
Mas tudo o que fiz para me manter invicta do senso comum daquele ambiente foi em vão. Num golpe mortal à minha moral, um jovem homem me atingiu com a seguinte frase:
- Eu não entendo esse povo que fica lendo, lendo, lendo, essas porcarias que no fundo só contam historinhas...eu, que só fiz o ginásio, leio jornal e sou muito mais bem informado.
Eu tive que parar de ler. Doeu em mim. Retruquei:
- Meu senhor, desculpe, mas o senhor estava falando a respeito de leituras mais formais, né?O senhor acha que essas leituras mais formais também não servem para informar?
Antes eu tivesse ficado quieta.
O homem levantou sem nenhuma explicação e passou a minha frente.
E para dar o golpe final, olhou para trás e disse:
-Se a senhora lesse menos e prestasse mais atenção na fila, isso não iria acontecer!
Preciso dizer mais alguma coisa, meus caros???
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