Até que enfim o mercado da cultura mundial resolveu aceitar que o nosso pais-continente precisa, e muito, assumir a sua própria identidade. É uma questão de lógica : não tem cabimento um país com pouco mais de 192 milhões de habitantes e com uma gama de ultrajes culturais e linguísticos, se submeter as caprichos da prima mais velha América do Norte, e de sua respectiva madrinha, Europa.
Tá certo que em nível de experiências mundanas, e claro, mercantis, o Brasil ainda tem mundo que aprender. Tecnologia, Democracia, Cidadania, qualidades de vida e um catatau de outras coisas. Mas há uma coisa, acredito eu, que somente esta terra tupiniquim possue : os brasileiros? não! Brasileiro tem em todo lugar (aqueles gringos com a vontade fajuta de ser cool e animadinhos como a gente). O que o Brasil tem é um o amor-bandido de seu povo pela pátria.
O amor bandido é o mais gostoso de todos. É o amor boêmio. É o amor sem-vergonha. É aquele que num minuto está se amando, no outro se odiando. É assim o amor do povo brasileiro pela pátria amada idolatrada, salve, salve. Salve mesmo: salve esse povo que diz amar seu país, sua cultura, sua língua, e na primeira oportunidade dá uma banana pra nação que lhe abriga.
Salve esse povo que não está nem aí para as eleições em outubro e que só se preocupa com o novo técnico da seleção. Salve esse povo que abre crediário nas "casas Bahia" pra comprar, em 30 vezes, um Home Theater com entrada para BlueRay cujo manual vem em inglês e o dito cidadão não entende bulufas. Salve este povo que assiste TV o dia inteiro e é obrigado a criar os filhos jogando PlayStation, que por sinal, agora pode ser conectado no BlueRay comprado em 30 vezes. Salve este povo que é obrigado a pagar 7 anos de inglês no Wizard, para que os filhos possam jogar o Killzone no PlayStation conectado ao BlueRay que funciona no Home Theater e que vêm com o manual até então não entendido.
Este é o amor-bandido. O povo não têm culpa. O governo os incentiva a consumir. O povo consome. O governo duplica as tiragens de produtos nacionais. E o que povo faz? Consome...produtos estrangeiros ! Sabe porquê ? Porque o amor-bandido é assim, é ingrato.
E mais uma vez, o marido corno da história (o mercado nacional), vai tentar reverter a situação, só que agora de maneira mais inteligente. Ao invés de colocar produtos nacionais para concorrer com os estrangeiros - que ganhavam de lavada - o mercado nacional decidiu apenas revigorá-los com o arzinho brasileiro. Não é isso que o povo quer??? Então ai está.
Eu ,particularmente, acho uma pena termos que apelar para essas medidas. Isso só comprova, cada vez mais, que estamos abrindo mão do nosso valor comercial em função de uma pseudo-ideologia de globalização, que nada mais é do que do que o Neo-imperalismo disfarçado. O fato do mercado estrangeiro estar sendo "naturalizado" não significa que abrimos mão da inflência direta dos países dominates. É pior que isso. Significa que abrimos mão da nossa capacidade de produzir igual ou melhor que eles em função da ilusão de adaptação ao que é global.
Por isso, não vejo porque "traduzir" o que não está em português, e tão pouco consumir mesmo não estando em português. O que precisamos é acreditar que nós podemos também produzir o que , hoje, nos é oferecido. Mesmo esse amor sendo um amor-bandido, ele é acima de tudo, amor. E o amor começa de dentro para fora.